Nico, o pequeno milagre.

Olá, hoje venho falar-vos sobre o meu pequeno milagre. Afinal, quem é o Nico?

O Nico é o mais recente membro da família Monteiro, um Yorkshire Terrier que viu a sua vida passar-lhe à frente. Foram longos dias para mim e para a minha mãe, mas principalmente para este pequenino que sofreu, sofreu e não foi pouco.

O Nico é um pequeno cão, tão doce e tão lindo, que nos seus 3 meses foi bastante maltratado pelos seus antigos donos. Alguém que tenha a coragem de atirar um animal pela janela, não merece nada de bom na sua vida. Ele foi deixado a um canto para morrer, sem dó nem piedade. Quando digo que o Nico foi um milagre, eu quero realmente dizê-lo.

Decidimos ficar com o Nico até ele recuperar e depois iria para adoção. Não tínhamos noção da gravidade do seu problema, não sabíamos ao certo o que tinha acontecido com ele. O pior acabou por acontecer mais tarde.

Levei-o ao veterinário no dia em que o encontrei, e lá disseram-me que ele tinha um traumatismo craniano e com o tempo iria recuperar. Como assim? Como é que isso é possível? Vou simplesmente deixar o meu cão a sofrer com um traumatismo craniano durante a sua curta estadia? Qual é a chance de ele sobreviver a um traumatismo, nos seus 3 meses de vida, sem qualquer tentativa de o ajudar? Na altura não me passou nada pela cabeça, a Drª sabe do que fala, afinal ela é que percebe disto. Nesse dia levei o Nico para minha casa e ficou connosco durante dois meses, dois meses. Parecia não estar a sofrer, ele dava a entender isso, mas quem sou eu para dizer isso? Quem sou eu para dizer que o meu cão não estava a sofrer quando foi atirado de uma janela? Quando supostamente tinha um traumatismo craniano? Até que o dia chegou. Era domingo, tinha passado o dia com a minha família e à noite, chego a casa (parecia que ele estava à minha espera) e acontece o inesperado. O Nico começou a esticar-se completamente com a boca aberta. O pânico começou e eu não sabia o que fazer. Peguei nele com cuidado e fui a correr ter com a minha mãe. Eu chorava, desesperava. Não o queria perder, logo eu que já me estava a apaixonar por aquele doce e frágil cão.

Frágil? Mas ele é tão forte, ele sofreu tanto e nunca desistiu. Ele não é frágil. Nem pequeno. Ele é forte e gigante.

Conseguimos trazê-lo de volta à realidade, pensei que o ia perder naquele instante. "Num domingo à noite, o que é que eu vou fazer!?" pensava eu. Não sabia se havia um veterinário perto, aberto naquele dia e àquela hora.

Felizmente por precaução tinha o número da Saúde 24 Animal (760 450 911) guardado nos meus contactos. Ligámos e disseram-nos o veterinário 24h mais próximo da nossa localidade. Então fomos. Deixámos tudo o que tínhamos para fazer e fomos desesperadas, apanhámos um táxi e pedíamos ao nosso pequenino grande cão, que não se fosse embora.

"Tu és forte meu amor" dizia-lhe eu constantemente, mergulhada nas minhas próprias lágrimas. Fomos a um veterinário "Infelizmente não temos o que é preciso para tratar o Nico mas ele tem de fazer uma cirurgia urgentemente"

Não. O Nico não tinha um traumatismo craniano. Nunca teve. O Nico estava com um problema na coluna que com o passar do tempo agravou e ele deixou completamente de andar. O Nico não era um bebé normal, ele não brincava, ele não era feliz. Ele passava o dia inteiro deitado na caminha. Ele não comia, nós tínhamos de o obrigar. Ele não bebia, nós tínhamos de o obrigar. Mas ele não era feliz e nós também não.

A cirurgia era cara. Demasiado para os nossos bolsos.

Dinheiro? Não havia dinheiro. Não havia. Eu queria tanto ajudá-lo mas não encontrava soluções.

"Sem cirurgia ele não sobrevive e mesmo após a cirurgia não sabemos"

Ouvi isso tantas vezes. Olhava para o meu bebé e os olhos dele diziam tantas coisas, sofrimento era o que eu via nele, mas não íamos desistir, nunca.

Nessa noite, andámos em vários veterinários, a última viagem da noite foi a uma associação, associação que espero nunca meter lá os pés de novo. Pedimos ajuda, não havia forma de pagar a cirurgia do Nico. Não havia forma. "Meu amor, prometo que não desistimos de ti. Não desistas também, por favor" pensava eu, pensava a minha mãe, dizíamos as duas ao Nico. As lágrimas não acabavam, o cansaço era enorme já. Não sabíamos o que fazer mais. Após a nossa ida a essa associação, o nosso chão caiu.

"O Nico está em sofrimento. Não sabemos se sobreviverá após a cirurgia, sem ela é impossível viver. Ele vai estar sempre em sofrimento das duas formas" Não. Não é possível eu estar a ouvir aquilo. Desistir antes de tentar? Uma Sra da associação, médica, a dizer-me que o melhor era abater o meu menino? Sem sequer tentar? "Sem dinheiro não há cirurgia" - dizia - "Estão a cometer um erro se decidirem levá-lo para casa". Como é suposto reagir a estas frias palavras? Basta! Fiz o que tinha de fazer, levei o Nico para casa nessa noite e tentei arranjar soluções.

Segunda-feira, noite mal dormida, mas era um novo dia para procurar ajuda. E encontrámos.

Contactei a associação União Zoófila que nos ajudaram, não tenho forma de agradecer a ajuda que nos deram. Na noite anterior consegui contactar a doce Rita Pereira, atriz portuguesa, que nos ajudou bastante também. Estou bastante agradecida, sem eles não era possível.

Salvaram o Nico.

O Nico conseguiu fazer a cirurgia, conseguiu o dinheiro para os tratamentos todos. A operação correu bem, ainda que ele tenha tido uma paragem cardíaca durante a mesma, conseguiu. Conseguimos. Foi difícil mas não desistimos.

E nós tivemos a decisão mais fácil das nossas vidas, íamos adotar o Nico. O nosso coração não aguentaria deixá-lo partir para outra família, depois de tudo o que passámos juntos.

O Nico tem 9 meses e está bem, está ótimo! Ele brinca como um cão normal, ladra, anda, corre, faz tudo como um cão normal, embora se note uma fragilidade nele.

Mas ele é forte! Já não está em sofrimento, ele é feliz. Tem uma família que o ama. Finalmente, ele é feliz. O Nico é feliz e é um milagre.

O Nico é um milagre, o nosso milagre.